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Dependência do tabaco

Os efeitos farmacológicos da nicotina são os principais responsáveis pela dependência tabágica, que por sua vez provoca efeitos devastadores na saúde, como doenças cardiovasculares, doenças pulmonares, cancro e o aumento da susceptibilidade a uma variedade de doenças infeciosas. 

O grau de dependência provocado pela nicotina, é de tal forma elevado, que apesar da maioria dos fumadores demonstrarem desejo de deixar de fumar, a maioria que tenta deixar de fumar por si só , sofre uma recaída durante o 1º mês[1].

 

 

 

 

 

 

Mecanismo de dependência

A nicotina inalada através do fumo do tabaco, é transportada nas partículas de fumo para os pulmões, de onde se difunde para a circulação sanguínea atingindo rápidamente o cérebro. No cérebro, esta liga-se a receptores colinérgicos nicotínicos, que são canais iónicos dependentes de ligandos.  Quando ocorre a ligação de uma agonista colinérgico, no exterior do canal, estes abrem-se, permitindo a entrada de catiões como o sódio e cálcio, que irão ativar os canais de cálcio dependentes de voltagem, o que por sua vez irá permitir a entrada de mais catões cálcio.O sub-tipo α4β2 dos recetores colinérgicos nicotínicos é o principal mediador da dependência da nicotina[2].

A nicotina provoca a libertação de dopamina na área mesolimbica, corpo estriado e cortex frontal. Os neurónios dopaminérgicos na área tegmental ventral do mesencéfalo, e a libertação de dopamina no núcleo accumbens, são fundamentais para o efeito de recompensa. Para além da dopamina, também são libertados outros neurotransmissores que medeiam vários comportamentos da nicotina, como a noradrenalina, a acetilcolina, a seretonina, o GABA, o glutamato e as endorfinas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O hábito tabágico crónico, tem um efeito inibitório na atividade das monoaminas oxidase (MAO A e MAO B), o que aumenta os níveis de  de dopamina e noradrenalina nas sinapses, aumentado os efeitos da nicotina e contribuindo para a dependência.

Com a exposição crónica à nicotina, ocorre o desenvolvimento de tolerância (neuroadaptação) e dessensibilização dos recetores nicotínicos o que irá contribuir para a dependência e tolerância à nicotina[1].

 

 

Metabolismo da nicotina como um determinante para o uso de tabaco & risco de desenvolvimento de doenças

A CYP2A6 é a principal enzima, responsável pela metabolização da nicotina no seu metabolito cotinina.  A CYP2A6 é altamente polimórfica, sendo que  as variações genéticas nesta enzima influenciam o metabolismo da nicotina.

Nos indivíduos caracterizados como metabolizadores pobres, apresentam uma redução da atividade enzimática da CYP2A6, a nicotina apresenta um maior tempo de semi-vida, resultando em níveis plasmáticos prolongados desta substância. Estes indivíduos fumam em média um menor número de cigarros diariamente e apresentam níveis de monóxido de carbono mais elevados relativamente aos metabolizadores normais. Para além disso, apresentam sintomas de abstinência menos intensos e têm maiores taxas de sucesso na cessação tabágica.

A CYP2A6 é também responsável pela bioativação de nitrosaminas específicas do tabaco, que poderão contribuir para o desenvolvimento de cancro do pulmão e possivelmente cancro pancreático. Um metabolizador lento, apresentará um menor risco de desenvolvimento de cancro,pois  irá bioativar uma menor quantidade de nitrosaminas.

As variações genéticas na CYP2A6 poderão também explicar algumas diferenças raciais no risco de desenvolvimento de cancro[3].

 

Síndrome de abstinência da nicotina

 Caracteriza-se por uma série de sintomas característicos tais como:

  • Irritabilidade;

  • Depressão;

  • Inquietação;

  • Ansiedade;

  • Sensação de fome;

  • Aumento do apetite;

  • Dificuldades de concentração;

  • Insónia;

Para além destes sintomas, é comum verificar-se um desejo compulsivo de fumar .Estes sintomas, têm início  poucas horas (2-12 horas) após se deixar de fumar, atingindo um pico após 24-48 horas. A maior parte destes sintomas,apresenta uma duração de cerca de 4 semanas, mas o aumento de apetite e o desejo compulsivo de fumar podem apresentar uma duração de seis ou mais meses. Voltar a fumar é a forma mais fácil e rápida da pessoa em situação de privação conseguir reverter os sintomas, contribuindo desta forma para a dificuldade na cessação do hábito tabágico[1].

 

 

[1] Benowitz, N.L. (2009) Pharmacology of Nicotine: Addiction, Smoking-Induced Disease, and Therapeutics.Annu. Rev. Toxicol. 49:57-71

[2] Benowitz, N.L. (2008) Clinical Pharmacology of Nicotinne: Implications for Understanding, Preventing, and Treating Tobacco Addiction. Clinical Pharmacology & Therapeutics.83:531-541

[3] Khokhar, J.Y., Ferguson, C. S., Zhu,A.Z.X., et al.(2010) Pharmacogenetics of Drug Dependence : Role of Gene Variations in Susceptibility and Treatment.Annu. Rev. Toxicol. 50:39-61

© 2014 by Ana Aguiar, Ana Pinto and Dora Duarte

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